Tudo começou em 1990, quando um Senhor de seu nome António Malvar, decidiu criar um teste anual quando fez 40 anos para contrariar a sensação de velho que as suas filhas o faziam sentir.
Passados 22 anos,já são muitos os que fazem do Troia-Sagres o seu próprio desafio sendo eles novos ou "velhos".
Já tinha ouvido falar desta travessia ao longo dos tempos,principalmente quando comecei a dar um pouco de mais atenção a esta modalidade, mas nunca estive para ai virado....
Este ano houve a conversa com o pessoal dos FVF Bike Team (que já tinham feito o ano passado) e a ideia começou a ganhar asas.
Para não variar muito,o companheiro de sempre nestas maluqueiras ( começou com as primeiras Maratonas e eu ir para o Hospital,passando por umas 24h em equipa de 2) disse logo para ir-mos.
O meu problema não era o Nuno Gaio,ele que sempre esteve melhor preparado que eu...era mais o que lia pela net.
Se o gráfico parecia algo simples,com apenas 1200m de acumulado, os 200km era um desafio pois nunca tinha passado dos 120km.
Mas o pessoal dizia: "isto faz-se,na boa..:" e eu lia na net: "foi metade do percurso a penar"...mau,em que ficamos?
Certo é que metemos na cabeça que iríamos,mesmo com os Alertas Amarelos para esses dias, e nada nos fazia recuar, nem mesmo os amigos que na sexta feira num jantar e com uma garrafa de whisky fazia nos diziam para esquecer a ideia.
5h da manhã, tomar um pequeno almoço reforçado (ou tentar),preparar as ultimas coisas para arrancar de encontro com o grupo dos FVF.
Como as palavras de incentivo por parte de amigos e primo do dia anterior não era suficiente nada como estarem estes mesmo meninos à porta de casa para voltar a perguntar: "nuno,queres mesmo ir?ainda estás a tempo...."
Tróia,o Ponto de Encontro
Eram 8h e já estávamos em Tróia, mesmo com alguns atrasos.
Nos 15km que separam o cruzamento da Comporta e Tróia,só se via pelotões de ciclistas com as suas luzinhas a piscar...e o formigueiro na barriga começava a chegar.
Tudo preparado e toca a arrancar.
Sempre expectante com o que iria acontecer, comecei a achar que o ritmo inicial era algo elevado para 200km. Ok que a primeira metade do percurso era quase plano e muito rolante,mas rodar constantemente acima dos 30km/h não me dava boas ideias para o restante percurso.
Quando demos por isso,ia o Adriano,o Lutas e o Nuno a puxar por um grupo de 100 ciclistas que estavam "á mama" e a rodar sempre a 35/40 km/h.....
Até Sines foi um tiro,mais precisamente 2h15 para fazer os 70km até à Central, local onde estavam á nossa espera para abastecer e comer qualquer coisa.
Apesar de achar que o ritmo estava alto,o espírito era de aventura e conseguia-se desfrutar de cada km percorrido.O ambiente era fenomenal ao longo da estrada,ciclistas de todos os gostos e com todo o tipo de bikes... incrível o espírito em que se tornou este pequeno desafio.
A 2ª parte voltou a ser rolante,com o ritmo a baixar um pouco para precaver o que iríamos apanhar mais á frente,com as subidas de S. Teotónio.
Aqui sim,começou o grande desafio...o psicológico principalmente.
Se fisicamente começamos a ir abaixo,com 130km nas pernas dos quais 70 foram feitos em alto ritmo para ti, o psicológico não ajuda nada se nos formos abaixo.
Começam as primeiras subidas e o grupo parte-se ficando eu e o Alexandre para trás, tentando fazer a subida ao nosso ritmo.
O Nuno Gaio,apesar de se estar a sentir bem acabou por fazer de Cruz Vermelha e aguardar por nós de modo a facilitar depois os restantes km´s, que o vento começa a fazer-se sentir de sul.
Até ao km 150,onde tínhamos programado outra paragem, foi sempre em grupo de 4 pois já se tinha juntado a nós o Nuno dos FVF para ver se o barco ia a bom porto.
Nestes km´s, o psicológico não parou de trabalhar e já se pensava em desistir....faltavam ainda alguns km´s e não iria aguentar o ritmo deles tirando o facto de o corpo começar a rejeitar os Geis e Barras que levava...o estômago pedia comida sólida,uma boa feijoada se fosse preciso mas algo mais consistente.
150km estavam feitos, mas a cabeça pendia para desistir...faltavam "apenas 50km" mas parecia tanto aquelas horas do dia.
Pensava: "vou desistir para não os atrapalhar,não consigo seguir o seu ritmo.Para fazer mais 50km tenho que ir mais devagar",mas como bom teimoso e inconsciente das coisas "...mas,vais desistir sem que sejas obrigado ou caias para o lado de modo a ir parar ao Hospital?Epah,vou continuar,nem que apanhe boleia depois com um ciclista mais lento".
Spray para as pernas (não sei o que era mas ajudou),comida uma sande,bidons cheios,bolsos com comida e lá vamos nós de novo.
Pela frente ainda tínhamos 50km´s e uma subida longa, de 7km segundo diziam apesar de ter uma inclinação menos do que a de S. Teotónio.
Por incrível que possa parecer,apesar de se ter baixado o ritmo, os últimos km´s foram feitos com um mais ávontade que os anteriores começando a surgir uma pequena esperança no final do nevoeiro que ainda se apanhou no alto da Serra.
A pouco e pouco os km´s foram percorridos e comecei a avistar o mar...era bom sinal,não faltava tudo até que finalmente se vira para Sagres onde o placa dizia: "Sagres 8".
Estava quase,pois a partir dali era sempre a direito e já não se precisava de grandes forças para continuar (a não ser que tivesse vento de frente).
Finalmente Sagres
Cá estava, poucos minutos depois, a tão desejada placa: "I love Sagres".
O objectivo foi cumprido, foram feitos 200km´s em 7h20 de andamento (8h04 no total).
Ao longo dos 200km´s deu para conhecer pessoas novas,para nos conhecermos melhor e para se deslumbrar com as vistas que a nossa costa Vicentina nos permite.
Vi ciclistas a fazer todo o percurso sozinhos,com todo o tipo de bikes, objectivos diferentes de cada um mas que em todos algo era igual: Chegar a Sagres,passar um dia em convívio e atingir os objectivos pessoais.
Só temos a agradecer a estes 2 Senhores por á 22 anos terem criado um desafio pessoal que ao longo dos anos tem vindo a crescer e a tornar-se o desafio de muitos.
António e Berta partiram de Tróia por volta das 5h chegando a Sagres ainda de dia....
Quanto a mim,espero para o ano estar de novo presente...
Um agradecimento especial ao Filipe Jesus,condutor e acompanhante ao longo dos 600km´s percorridos e das 16h fora de casa.Sem ele nada disto seria possível....